Meios de comunicação, sociedade e preconceito

Meios de comunicação, sociedade e preconceito

Meios de comunicação, sociedade e preconceito

A forma como pensamos e vivemos, assim como tudo aquilo que consideramos certo ou errado, importante e obsoleto, bom ou ruim, se baseia num conjunto de valores que permeiam as sociedades em determinadas épocas.

Muitos acreditam que tais valores e ideais são inerentes ao ser humano e que já nascemos com eles. Entretanto, tal fato não se aplica. Na realidade, ideias e valores são aprendidos por nós inicialmente no núcleo familiar e posteriormente em instituições como a escola, centros religiosos, e basicamente dentro do grupo social a que pertencemos e com o qual interagimos.

A partir destes valores e ideais, construímos nossas crenças (construções mentais) acerca de nós mesmos e de tudo e todos que nos cercam. Os julgamentos de valores dentro de uma sociedade são ditados pelas instituições que detêm o poder, sejam elas o estado ou a Igreja, por exemplo, e então, se institucionalizam, ou seja, são implementados em nosso dia a dia.

Passamos nossos dias assistindo novelas, filmes, comerciais ou lendo jornais e livros sem termos consciência de que estamos internalizando as ideias de que estes tentam nos convencer. Entramos nas redes sociais e ouvimos pessoas eloquentes e intelectualizadas expressarem suas opiniões e explicações acerca de fatos. Reparamos nas pessoas que passam por nós e que se enquadram ou não nos padrões valorizados pela mídia e  se encaixam no grupo dos que obtiveram sucesso ou daqueles que “fracassaram”.

Certos de que somos donos de nossa forma de pensar e agir, não percebemos as influências a que somos constantemente submetidos. Desta forma acreditamos que os valores que atribuímos a tudo e a todos são universais e absolutos e os naturalizamos, julgando aqueles que consideramos subversivos.

Podemos escolher como exemplo a forma como os mais velhos são vistos. Nas sociedades primitivas, estes eram objetos de veneração. Eram respeitados e procurados pelos jovens em busca de conselhos já que eram considerados sábios. A partir da revolução industrial, julgava-se o homem pela sua capacidade de produção e, o idoso passou a ser excluído e marginalizado. Nos últimos anos, a criação do Estatuto do Idoso e a formulação de políticas públicas têm permitido que o idoso possa ser se não valorizado, pelo menos  minimamente respeitado.

Por outro lado, a importância dada às crianças é um fato relativamente recente. Na antiguidade, mulheres e crianças eram consideradas seres inferiores. A arte medieval parecia não reconhecer a infância e esta era raramente retratada. Logo que a independência física era alcançada, inseriam-se as crianças no mundo adulto sem que passassem pelos estágios estabelecidos atualmente. Somente na Idade Moderna após o século XVI, construiu-se a ideia de infância, levando-se em conta a preocupação com a educação moral e pedagógica das crianças bem como a disciplinarização de seu comportamento no meio social.

Como último exemplo, consideremos a questão da homo afetividade. Na Grécia e na Roma Antiga, considerava-se normal um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem. Sócrates (469-399), o grande filósofo grego era um dos que pregavam o amor homo afetivo. Pela tradição, os jovens atenienses construíam laços de amor com homens mais velhos, para ter acesso a seu conhecimento e absorver suas virtudes. Para os romanos, a relação entre um homem adulto e um mais jovem era sinônimo de pureza. Com o advento do cristianismo e sua expansão pelo mundo ocidental, a homossexualidade passou a ser considerada um pecado e antinatural. O Renascentismo, anos mais tarde, trouxe de volta o culto ao corpo masculino e a celebração do amor entre homens. Contudo, passou-se a acreditar que a chegada da Peste Negra, que assolou a Europa dizimando a população, representaria um castigo pela ira de Deus em relação a sodomia e a heresia. Novamente se deu a “caça às bruxas” com a perseguição e de homossexuais, judeus e hereges.

Tais exemplos denotam as mudanças de paradigmas por que passam as sociedades através dos séculos e que afetam todo o modo de agir e de pensar de todos. Desta forma, percebemos que os seres humanos não nascem com determinados pensamentos e comportamentos, mas os desenvolvem durante toda a sua existência pautando-se num conjunto de modelos que o cercam.

Refletir acerca dos valores que pregamos e dos julgamentos que fazemos pode ser de grande valia para compreendermos a nós mesmos e o mundo que nos cerca.

Exemplos de minorias psicológicas, ou seja, grupos de pessoas em condição de vulnerabilidade que ainda sofrem preconceito são mulheres, crianças, idosos, negros e LGBTS. Muitos deles são alvos constantes de violências concretas como agressões físicas e verbais ou “disfarçadas”. Os próprios meios de comunicação transmitem opiniões sobre estes grupos através de novelas, músicas, propagandas e falas de jornalistas ou estudiosos que são facilmente absorvidas e aceitas, mas que inúmeras vezes se encontram cobertas de preconceitos.

Os efeitos destes preconceitos nos indivíduos é quase sempre o desenvolvimento de transtornos de depressão e ansiedade que podem produzir isolamento, baixa auto estima e desencadear no abuso de substâncias como álcool e outras  drogas ou em transtornos alimentares.

A Psicologia Cognitivo-Comportamental mexe na raiz destas questões, buscando soluções para que encontre bem estar, reconhecendo a pessoa valiosa que é independente de cor, raça, religião, status, poder, peso, altura, gênero, opção sexual ou o que quer que seja ou tenha.

Patricia Madeira - Psicóloga

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