Imediatismo

A psicologia cognitivo-comportamental propõe a solução de questões de forma prática e geralmente breve. Alguns psicólogos propõem tratamento que duram em média 20 sessões.  Entretanto cada caso é um caso e é preciso que isso seja avaliado de forma prudente. De qualquer forma, o que muitas vezes se percebe é que muitos pacientes ou familiares sentem a necessidade de um imediatismo, acreditando que questões que demoraram anos sendo construídas serão modificadas em poucas sessões.

Nosso cérebro é um computador extremamente evoluído e aprende fatos novos através do treino e da repetição. Comportamentos aprendidos e repetidos o longo de anos, mesmo que prejudiciais, já foram incorporados ao nosso repertório e para nosso cérebro, fazem parte de nós. Assim ele esperará que ocorram constantemente. Caso parem de ocorrer por alguma razão, o cérebro procurará nos lembrar.

Se comermos doce todos os dias às 11 h da manhã, nos próximos dias neste mesmo horário sentiremos vontade de comer doce. Se assistirmos televisão pouco antes de dormir, sentiremos falta disto se algum dia não o fizermos. Caso passemos boa parte de nosso dia no Facebook, teremos dificuldade em deixar de fazê-lo. Se quisermos emagrecer precisaremos de pelo menos de 6 meses a um ano  mantendo nosso peso, caso contrário nosso corpo voltará ao peso que apresentávamos.

É possível que compreendamos agora que para que mudemos crenças e comportamentos precisamos de tempo. Tempo para praticar e também para nos habituar com as mudanças em nosso corpo e em nossa vida.

Sabemos que a sociedade contemporânea prega o imediatismo: fast food, relacionamentos amorosos que começam e terminam do dia para noite, remédios e drogas que prometem mudanças instantâneas e que anestesiam nossos sentimentos, a voz de nossa alma. Entretanto, embora tecnologias cada vez mais avançadas estejam surgindo, continuamos a ser humanos e possuindo características tão próprias de nossa espécie. Na tentativa de se anestesiar e se robotizar, muitos acabam em depressão. Outros na ânsia de serem perfeitos acabam desenvolvendo transtornos de ansiedade e estresse.

Um dos caminhos para a felicidade é o encontro da paz. Paz conosco mesmos, com o mundo e com os demais. Para encontra-la é preciso que pratiquemos com paciência, a perseverança e sobretudo esperança, pois sem ela nada disso fará sentido.

É importante, portanto, que vejamos a terapia como um processo, um caminho para a construção de algo dentro e fora de nós que para ser forte e duradoura demandará tempo e esforço. Não pensemos nela como algo desagradável ou negativo, mas como uma jornada de autoconhecimento e novas e felizes realizações. Ouço muitas vezes pessoas dizendo que estão perdendo tempo e dinheiro “tendo que fazer terapia”. Essa é uma crença negativa pois na verdade estão ganhando tempo e investindo em si mesmas, em seu presente e seu futuro.

Há também aqueles que chegam a extremo sofrimento e que após sentirem algum alívio depois de poucas sessões resolvem parar tratamento. Na verdade se convencem de que tudo mudou e que não precisam mais continuar a psicoterapia. Logo retornam aos antigos hábitos e após algum tempo a dor retorna ainda pior.

Pessoalmente, não acredito em promessas milagrosas de terapias que declaram resolver suas questões em dias ou horas. Enxergo a mudança como algo que ocorre progressivamente e com compromisso. Afinal, quanto tempo levamos para aprendermos a falar, andar, escrever entre outras habilidades? Assim é o aprendizado emocional, racional  e comportamental.

Patricia Madeira - Psicóloga

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