Famílias tóxicas e baixa autoestima

Famílias tóxicas e baixa autoestima

Nossa família é o primeiro mundo que conhecemos. É nossa referência e tudo o que temos nos primórdios de nossas vidas. Como família, refiro-me a pessoas com as quais convivemos cotidianamente e que são responsáveis por nós ou pelas quais nos responsabilizamos.

Através dos olhos dos que de nós cuidam, somos apresentados a nós mesmos e ao mundo exterior. À medida que somos tratados com respeito, consideração e amor, aprenderam a nos tratar da mesma forma. Por outro lado, maus tratos como atos de abuso e negligência podem moldar negativamente nossas percepções acerca de nós mesmos. Como abuso, refiro-me a abusos emocionais tais como agressões verbais, ameaças, gritos, zombaria entre outros; abusos físicos podem se apresentar como surras, beliscões ou puxões de orelha, por exemplo. A negligência se constitui como a privação de cuidados, alimento, segurança, artigos de higiene e/ou vestimentas.

Robert Rosenthal e Lenore Jacobson, conceituados psicólogos americanos, estudaram o “efeito Pigmalião” e demonstraram como as expectativas dos professores afetam o desempenho dos alunos. Segundo eles, professores que têm uma visão positiva dos alunos acabam os estimulando e os levando a obterem melhores resultados; inversamente, professores que não valorizam seus alunos adotam posturas que acabam por comprometer negativamente seu desempenho.

Também numa família, a forma como a criança é tratada contribui para os sentimentos que terá sobre si mesma e sua sensação de sucesso ou fracasso como “ser” no mundo em que está inserida. Ou seja , quando os “pais” ou cuidadores dizem frases como “você não faz nada direito mesmo”, “sua (seu) imprestável” , “Você é idiota, imbecil” , “Nunca vai ser alguém na vida”, na verdade estão criando um terreno fértil para que estas profecias sejam semeadas e produzam amargos frutos num futuro próximo.

O célebre escritor Franz Kafka foi um triste exemplo do exposto acima. Morreu aos 41 anos de tuberculose, sozinho no hospital em que se encontrava internado. Até sua morte, suas obras nunca haviam sido publicadas. Na verdade, Kafka pedira a um amigo que as destruísse após sua morte já que não via valor algum nelas ou em si mesmo. Em uma carta que redigiu a seu pai, Kafka expõe clara e tristemente o quanto este o havia prejudicado nem tanto pela falta de conforto material e segurança física, mas sim por negar-lhe carinho e validação como ser humano ou palavras que exprimissem afeto e apoio. O autor descreve um pai narcisista que só tinha olhos e admiração para si mesmo, e para quem os outros incluindo seus filhos, não passavam de “insetos” imprestáveis. Seu livro “A metamorfose” retrata bem isso. Uma família na qual certo dia, o filho transforma-se em uma barata. Antes admirado por ser o arrimo da família, após tal transformação, pouco a pouco, passa a ser desprezado, evitado, até finalmente ser eliminado.

A “Carta ao pai” e “A Metamorfose” de Kafka são exemplos da influência destrutiva de ações ou omissões paternas ou maternas sobre a existência dos filhos, causando-lhes dor e sofrimento e sobrepujando-lhes a alegria de viver. Considerado hoje um dos maiores escritores de todos os tempos, Franz Kafka jamais vislumbrou seu próprio talento, além, de nunca ter conseguido desfrutar de seu sucesso.

Infelizmente, há um grande número de pessoas dotadas de qualidades e talentos inimagináveis que não ousam se expressar ou tentar expô-los, pois não têm ideia de seu potencial. Perdidas e confusas passam suas vidas procurando se entender. Muitos apenas sobrevivem como zumbis enquanto outros encontram nas drogas uma forma de anestesiar a dor que trazem em seu amago.

A terapia Cognitivo-Comportamental, pode nos ajudar a  mudar as crenças negativas e destrutivas que nos foram implantadas ao longo de nossas vidas. Ao mudarmos nossa forma de nos ver e ver o mundo que nos cerca, passamos a experienciar novos sentimentos, com mais leveza e certos de que fazemos parte desta vida e somos importantes no espaço em que vivemos.

Patricia Madeira - Psicóloga

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